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breve intervalo

E fez da vida ao fim…

A Ilusão das Casas Digitais

Fevereiro 04, 2025

O último post escrito aqui foi em Maio do ano passado. Desde então, o blog ficou parado, silencioso. Não foi por falta de ideias, nem de vontade. Foi por falta de tempo ou simplesmente por não conseguir gerir o meu tempo de forma a encaixar algo divertido e leve, como estar aqui, aos dias. A mente fica absorvida num fluxo de alheamento até para o umbigo da minha vida.

Esta semana, olhei para alternativas. Explico-me. Nos últimos tempos, observei uma tendência crescente de pessoas a migrarem para plataformas como o Substack, à procura de novas formas de alcançar um público. Curiosamente, isso colide com o mote sob o qual criei este espaço. Estar sozinho. Acabei por ser atraído por essa onda e esta semana criei uma conta, uma conta só na esperança de explorar novas oportunidades de publicação. Após a criação e até exportação dos textos do Breve Intervalo, parei. Parei e no fundo percebi o problema não estar na plataforma. O problema sou eu e, se quisermos levar isto além, somos nós. Não é o Substack  a resolver-me o tempo para escrever, nem a mudança de cenário devolveria a vontade de alimentar esse espaço. Há uma ironia nesta fuga. Fugimos das redes sociais saturadas, do excesso de estímulos, do algoritmo esmagador da individualidade. Mas fugimos para onde?

Para um Substack, para um outro espaço com a promessa de intimidade e autenticidade, mas ainda dependentes de métricas, de assinantes, de um público. Queremos estar sozinhos, mas apenas se houver alguém a ver. Queremos uma experiência mais real, mas acabamos por andar em troca de palcos, apenas a cortina diferente. No fundo, talvez não seja uma busca por solidão, mas sim por um tipo específico de companhia. Uma companhia para estar ali, a ler sem deslizar para o próximo post, atenta e sem um algoritmo a empurrar para isso. Continuamos na troca por troca, uma migração sem saída, um outro nomadismo digital. Manter o Breve Intervalo como blog pessoal oferece uma liberdade incomparável. Aqui, tenho controlo total sobre o design, a funcionalidade, até a forma como apresento o conteúdo. Posso personalizar cada detalhe para reflectir a minha identidade e  valores, qualquer plataforma padronizada para massas, por muito intimista se prometa, e as próprias plataformas de blogs em alguma medida se propõe a isso, acaba por deturpar isto. Este espaço é verdadeiramente meu, foi isto o constatado, sem intermediários, sem algoritmos a ditar quem vê o quê. Houve então uma reação oposta quando já tinha exportado e importado os posts. Como se um bem precioso fosse, afinal, colocado a arder. Tentei de imediato apagar o fogo. Apaguei o Substack.

A decisão de apagar o Substack e ficar no meu blog foi, em última análise, uma escolha pela autenticidade da minha solidão, essa almejada por outros. Percebi não se tratar de seguir tendências ou procurar onde está a maioria mais pequena, mas sim valorizar o construído e continuar a desenvolver este espaço pretenso, em muitos aspectos, a uma série de anexos velhos ao fundo desse terreno atribulado, das coisas da minha cabeça. É este um espaço bonito, escolhi-lhe as cores, as formas, os enfeites dos jardins. Precisamos de reaprender a reservar tempo para aquilo ao qual nos pretendemos dar, será mais isso. Escrever num diário, faço-o, nada aí me exige um público, e isto aqui foi para ser assim. É bem vindo quem chegar. Um local de encontro fugaz, à espera para organizar pensamentos, partilhar momentos especiais ou inquietações. Voltei porque fiquei. Não porque ache isto aqui ser mais fácil ou atractivo. Nem porque, de repente, vá escrever todas as semanas sem parar.

Por isso, mais vale parar aqui, antes de me atestar um perdido digital.

 

Sobre

21aafb00b84d1f9249b0b9a10481d2f3.pngO blog enquanto página pessoal tem como objectivo trazer um registo da vida que se insurge à correria do dia a dia, intervalos no intervalo. O "breve intervalo" surge como pausa, reflexão e memória do não empregue nos meus cadernos. Ao fim, essa outra vida trivial: a das opiniões, dos passeios, do não se querer esquecer e manter em permanente rascunho.

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